18 fevereiro 2009

Os Spreads, a Banca e o BES

Todos os bancos têm vindo a aumentar spreads nos seus empréstimos às empresas e também, em alguns casos, a particulares. Dadas as condições actuais dos mercados, estas subidas são justificáveis nos créditos de curto prazo e porquê? Em 1º lugar, porque existe uma grave crise de confiança nos mercados financeiros, promovendo falta de liquidez e forçando os bancos a recorrer a outros meios de funding mais caros que a Euribor. Em 2º porque sendo o Spread a margem do banco, esta tem duas vertentes: remunerar o empréstimo em si e receber um prémio pelo risco inerente ao mesmo. É evidente que se o proponente a um empréstimo tiver um risco mais elevado, o seu spread vai reflectir essa análise e será mais também mais alto.
Acontece que alguns bancos (não todos) da praça, com maior evidência para o BES, têm vindo a aumentar os spreads aos seus clientes de forma escandalosa. Este banco tem manifestado uma dimensão ética pouco recomendável e sem par na praça onde actua. Aumenta spreads de empréstimos de médio/longo prazo (algo inédito); envia cartas aos seus clientes sem data a informar de aumentos dos preços nos períodos seguintes, mas quando o cliente vai fazer contas o aumento foi activado no período já em curso; aumenta comissões de processamento de contratos de leasing já em curso; quando são consultados para uma cotação de um leasing não respondem com clareza em todos os custos inerentes, apenas informam do montante da prestação, não referem o spread, comissões de processamento, de gestão ou de abertura do contrato e quando os interrogamos dizem que o cliente está isento ou lá por perto mas, quando lhes entregam o contrato lá vêm duzentos e tal euros de comissão de abertura e o cliente não pode reclamar, porque nunca assumem nada por escrito, apenas verbalmente, não tendo o cliente meio de fazer prova (as escutas não são válidas) e porque depois não assumem aquilo que sustentaram ao cliente. Resumindo. Muito cuidado com a banca em geral, que têm tendência para, tal como um ilusionista, por à vista do cliente apenas aquilo que lhe interessa e esconder tudo o que é nefasto para este (aquilo que eu chamo os “invisíveis”), mas muito atenção ao BES, que tem demonstrado não olhar a meios para atingir os seus objectivos.

Estudos sobre as cotações de Matérias-primas e a OPEP

A grande maioria dos estudos sobre a evolução do preço das matérias-primas apenas serve para criar pressões e expectativas nos mercados. Parecem que são encomendados por alguém para que os agentes reajam a estas “notícias” e comecem desde logo a fazer encomendas da commodity, fazendo subir a procura desta e, por consequência, o seu preço de mercado. Tudo isto tem a agravante de numa época de turbulência e crise global, os mercados de capitais estarem em baixa contínua e de os tradicionais investidores não terem onde aplicar o seu dinheiro com algum grau de certeza de retorno, abrindo o “apetite” destes últimos para as opções de compra de petróleo, aumentando a sua procura e fomentando a especulação.
Deixo ainda claro que a OPEP representa cerca de 40% da produção mundial de petróleo e que, em minha opinião, não é um verdadeiro cartel. De uma forma simplista, para atingir o seu objectivo de maximização dos seus lucros, um cartel tem de ser homogéneo quanto aos membros que o constituem, o que só é possível quando estão envolvidas empresas. Como no caso da OPEP os membros são países, é evidente que a sua dimensão, população, evolução social, religião e modelos políticos são suficientemente divergentes para colocar em causa a sua homogeneidade, não deixando de lado que as reservas, capacidades e custos produtivos de cada estado membro também são muito discrepantes, pelo que existe sempre a tentação de alguns membros para “furar” as decisões da organização.
Mais, a influência da OPEP no mercado é relativa. Dados históricos provam que, por si só, não consegue influenciar alterações significativas nos mercados e que são os acontecimentos e as conjunturas globais que determinam o rumo dos preços do petróleo. Lanço um apelo para que os consumidores mantenham ou reduzam os seus consumos para os mínimos possíveis, conduzindo em velocidades moderadas, evitando a utilização da viatura própria quando é o único passageiro, poupando electricidade, …, de forma a que a procura real não venha a pressionar os preços.