Simplesmente inacreditável.
O Marcos tem 16 anos (no momento da reportagem tinha 15) e apesar de andar na escola há cerca de 10 anos, não sabe ler, escrever ou contar. Sabe assinar o nome e mal! Não tem a mínima ideia geográfica sobre o país onde vive e muito menos, obviamente, sobre o mundo. Quando lhe perguntam sobre uma cidade portuguesa que conheça, responde ... França!!!! Não tem a mínima ideia sobre a era em que vive, sequer sobre a data do próprio nascimento, pois acha que nasceu a "27 do 3 de 1600"!
Apesar de tudo isto, Marcos frequenta o 8º ano de escolaridade embora, há 20 anos atrás, o nível dos seus conhecimentos fosse mais adequados para o 8º dia de aulas na 1ª classe. Incrivelmente (ou não), a directora da escola não só não se mostra minimamente preocupada com a ineficácia de um sistema de ensino, que permite a um aluno transitar sucessivamente de ano sem um mínimo de conhecimentos adquiridos, como também ainda vem concordar com ele, afirmando que se trata de um incentivo à presença do aluno na escola.
Portanto, nos dias de hoje, a aprovação não depende de nada, sendo um dado adquirido para qualquer um. O mérito do aluno na aquisição de conhecimentos é acessório, ou seja, se ele aprender alguma coisa, porreiro pá, se não aprender, vamos lá passá-lo de ano se não ele não vem à escola. Tudo isto por causa dos números (e talvez algo mais). Mais precisamente para apresentar um número de pessoas com uma dada escolaridade no país, ainda que fictícia, uma determinada taxa de aprovação e ainda, para termos o máximo de alunos nas escolas. Se existisse abandono e com o decréscimo de natalidade verificado em Portugal nos últimos anos, mais escolas iriam fechar e menos professores seriam colocados. Só desta maneira é compreensível que uma classe tão contestatária como a docente, não se tenha manifestado contra este tipo de situação. Em minha opinião, para um aluno frequentar a escola não é necessário a “promessa” de aprovação. Basta que o estado intervenha e ameace retirar o aluno à família, pelo menos durante o tempo lectivo, por manifesta incapacidade de exercício do poder paternal.
Agora, pessoas com o 9º ou 12º ano, sem qualquer tipo de qualificação é que não pode ser possível, não só porque representa um desperdício dos preciosos recursos do estado, como também porque acarreta o arrastamento do atraso do país e o surgimento de dramas pessoais futuros. Mais, esta falta de rigor representa, também, uma gritante falta de respeito pelos alunos que meritoriamente atingiram as qualificações académicas citadas.
Termino com uma pergunta. Será que o objectivo dos sucessivos governos que permitiram este descalabro, para além da questão numérica, também foi descredibilizar o ensino público para abrir as portas ao ensino privado?