07 novembro 2010

Poema a Ministro de Salazar

Conta-se que este poema foi dirigido ao Ministro da Agricultura do governo de Salazar, como forma de pedir adubos. Por mais estranho que pareça, o senhor que o escreveu não foi preso e diz-se que Salazar até se riu quando o leu:
- E X P O S I Ç Ã O -
"Porque julgamos digna de registo a nossa exposição, senhor Ministro, erguemos até vós, humildemente, uma toada uníssona e plangente em que evitámos o menor deslize e em que damos razão da nossa crise.
Senhor: Em vão, esta província inteira, desmoita, lavra, atalha a sementeira, suando até à fralda da camisa. Falta a matéria orgânica precisa na terra, que é delgada e sempre fraca! - A matéria, em questão, chama-se caca.
Precisamos de merda, senhor Soisa!... E nunca precisámos de outra coisa.
Se os membros desse ilustre ministério querem tomar o nosso caso a sério, se é nobre o sentimento que os anima, mandem cagar-nos toda a gente em cima dos maninhos torrões de cada herdade. E mijem-nos, também, por caridade!
O senhor Oliveira Salazar quando tiver vontade de cagar venha até nós solícito, calado, busque um terreno que estiver lavrado, deite as calças abaixo com sossego, ajeite o cú bem apontado ao rego, e... como Presidente do Conselho, queira espremer-se até ficar vermelho!
A Nação confiou-lhe os seus destinos?... Então, comprima, aperte os intestinos; se lhe escapar um traque, não se importe, ... quem sabe se o cheirá-lo nos dá sorte? Quantos porão as suas esperanças n'um traque do Ministro das Finanças?... E quem vier aflito, sem recursos, Já não distingue os traques dos discursos.
Não precisa falar! Tenha a certeza que a nossa maior fonte de riqueza, desde as grandes herdades às courelas, provém da merda que juntarmos n'elas.
Precisamos de merda, senhor Soisa!... E nunca precisámos de outra coisa.
Adubos de potassa?... Cal?... Azote?... Tragam-nos merda pura, do bispote! E todos os penicos portugueses durante, pelo menos uns seis meses, sobre o montado, sobre a terra campa, continuamente nos despejem trampa!
Terras alentejanas, terras nuas; desespero de arados e charruas, quem as compra ou arrenda ou quem as herda sente a paixão nostálgica da merda...
Precisamos de merda, senhor Soisa!... E nunca precisámos de outra coisa.
Ah!... Merda grossa e fina! Merda boa das inúteis retretes de Lisboa!... Como é triste saber que todos vós Andais cagando sem pensar em nós!
Se querem fomentar a agricultura mandem vir muita gente com soltura. Nós daremos o trigo em larga escala, pois até nos faz conta a merda rala.
Venham todas as merdas à vontade, não faremos questão da qualidade. Formas normais ou formas esquisitas! E, desde o cagalhão às caganitas, desde a pequena poia à grande bosta, de tudo o que vier, a gente gosta.
Precisamos de merda, senhor Soisa!... E nunca precisámos de outra coisa. "

PEC IV em Janeiro de 2011