18 novembro 2005

A NOSSA PORTUGALIDADE

A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como Cavaco, Durão e Guterres. Agora dizemos que Sócrates não serve.
E o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada.
Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão que foi Santana Lopes ou nafarsa que é o Sócrates. O problema está em nós. Nós como povo. Nós como matéria prima de um país.
Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais do que o euro. Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais.
Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO.
Pertenço ao país onde as EMPRESAS PRIVADAS são fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa, como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos ... e para eles mesmos.
Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos.
Pertenço a um país onde a falta de pontualidade é um hábito. Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano. Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e depois reclamam do governo por não limpar os esgotos. Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros. Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é "muito chato ter que ler") e não há consciência nem memória política, histórica nem económica. Onde os nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprovar projectos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média e beneficiar a alguns. Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicas podem ser "compradas", sem se fazer qualquer exame. Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não dar-lhe o lugar. Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão. Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes.
Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não ser multado. Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu como português, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas.
Não. Não. Não. Já basta.
Como "matéria prima" de um país, temos muitas coisas boas, mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que nosso país precisa. Esses defeitos, essa "CHICO-ESPERTERTICE PORTUGUESA" congénita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até converter-se em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade humana, mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é real e honestamente ruim, porque todos eles são portugueses como nós, ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não em outra parte...
Fico triste. Porque, ainda que Sócrates fosse embora hoje mesmo, o próximo que o suceder terá que continuar trabalhando com a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos. E não poderá fazer nada...
Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá. Nem serviu Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco, e nem serve Sócrates, nem servirá o que vier. Qual é a alternativa?
Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror? Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa "outra coisa" não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados, ... igualmente abusados!
É muito bom ser português. Mas quando essa portugalidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, então tudo muda... Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos mandam um messias. Nós temos que mudar.
Um novo governante com os mesmos portugueses nada poderá fazer. Está muito claro... Somos nós que temos que mudar. Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a nos acontecer: desculpamos a mediocridadede programas de televisão nefastos e francamente tolerantes como fracasso. É a indústria da desculpa e da estupidez.
Agora, depois desta mensagem, francamente decidi procurar o responsável, não para castigá-lo, senão para exigir-lhe (sim, exigir-lhe) que melhore seu comportamento e que não se faça de mouco, de desentendido.
Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO. AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO EM OUTRO LADO. E você, o que pensa?.... MEDITE!
EDUARDO PRADO COELHO - "in Publico"

04 outubro 2005

BOICOTE AO JORNAL RECORD

Que o futebol gera paixões e ódios todos nós sabemos. Que muitas vezes o comum mortal, imbuído destes sentimentos, não analisa as situações com a devida clarividência, também é um dado adquirido. Agora jornalistas - como é lógico enquanto profissionais da comunicação - sonegarem a verdade ao público por não conseguirem desprender-se dos objectores clubísticos é de todo inaceitável.
Estes profissionais têm o dever ético de promover a isenção em nome de um interesse maior: o interesse público e, são formados, tendo em atenção este princípio básico que deve basilar toda a sua actuação.
Referindo-me especificamente a um caso, o jornal RECORD em toda a sua linha, tem tido como objectivo o defesa acérrima do clube Sport Lisboa e Benfica. Nas análises aos jogos, ESCAMOTEIA A REALIDADE, sobretudo no que se refere ás arbitragens que beneficiam este clube, pois se prejudicarem, faz disso alarido com toda a pompa e circunstância. Na análise aos outros clubes tem o procedimento inverso.
Não sei se estamos perante a linha editorial do jornal – que mais parece o pasquim oficial do SLB -, ou pura e simplesmente, da falta de qualidade dos jornalistas.
Este jornal, tem também uma EDIÇÃO ON-LINE a qual, contempla um espaço para os leitores escreverem os seus comentários. Contudo, os WEBMASTERS em vez de cuidarem da moral e dos bons costumes, preocupam-se com o conteúdo específico das mensagens. Segundo me tenho apercebido no meu caso pessoal e pelos contactos que tenho estabelecido, CENSURAM a quase totalidade das mensagens que “atacam” o Benfica e o sistema instalado no futebol português.
Dou o exemplo do meu comentário de hoje relativo à entrada do jogador Petit sobre Targino e, que mais uma vez, não foi publicado: “NINGUÉM PÁRA O PETIT, NINGUÉM PÁRA O PETIT, OLÉ OH!”. Será que ofende a moral? Ofende os bons costumes? Contém palavras obscenas?
Cuido que não.
Por isto solicito a todos que eventualmente leiam este post, que BOICOTEM O JORNAL RECORD EM TODAS AS SUAS APRESENTAÇÕES. Se é um jornal do SLB, que mude o seu título ou, pelo menos, que se apresente explicitamente como tal nas suas linhas editoriais.

14 setembro 2005

Jornalistas ???

Vi praticamente todo o encontro da liga dos campeões de ontem entre o Glasgow Rangers e o F.C. Porto.
Durante quase toda a partida, os nossos dragões foram muito superiores aos escoceses e mereciam, sem dúvida, trazer para Portugal um resultado bem mais positivo: a vitória.
Tiveram mais posse de bola, melhor fio de jogo, mais remates e sobretudo mais oportunidades de golo. Simplesmente, falharam na concretização das ocasiões criadas e em todos os golos consentidos, que foram fruto, não de mérito do adversário, mas de muita permeabilidade defensiva e, num deles, de um "erro" do árbitro do encontro.
Analisando o trabalho do árbitro, a avaliação mais imediata que se pode fazer é considera-lo de índole caseira. Permitiu durante todo o encontro a agressividade excessiva dos escoceses, raramente os admoestando disciplinarmente e mais grave, validou o 2º golo do Glasgow obtido na sequência de uma falta sobre o Guarda Redes portista .
Destacando em termos disciplinares o lance de Prso com Pedro Emanuel, ou o árbitro considera que se trata de uma disputa de bola simples, com contacto faltoso do avançado do Rangers e sem qualquer admoestação ou, considera um acto de brutalidade deste jogador, que coloca em perigo a integridade física do adversário, na sequência da qual tem de exibir o cartão vermelho e ordenar a consequente expulsão do infractor. Não fez uma coisa nem outra, ficou-se pelo cobarde cartão amarelo, claramente simpático para um jogador que parte o nariz a um adversário, quando este está mais próximo da bola e a afasta muito antes da sua entrada.
Em relação ao 2º golo do Rangers, este é obtido, notoriamente, em falta. As leis do jogo determinam que o guarda redes não pode ser tocado (se o Adversário estiver imóvel não toca no G.R., é tocado por este) dentro da sua àrea de protecção, se não tiver a bola em seu poder e um dos pés apoiados no solo. Assim, Kyrgiakos disputou a bola com Baia dentro da área do G.R. e atinge-o, pelo que o golo obtido na sequência deste lance deveria ser anulado.
Infelizmente, a classe jornalística portuguesa é manchada por muitos profissionais não isentos. Então no domínio desportivo é por demais.
Casos há, em que o profissionalismo e a imparciabilidade é tanta que até levam a pensar que as suas preferências clubísticas são diferentes das que efectivamente têm. Exemplos destes são Gabriel Alves, Sportinguista que todos pensam ser Benfiquista e o malogrado Jorge Perestrelo, Benfiquista acérrimo mas que dizem ser Sportinguista.
Contudo e infelizmente, muitos há que não se primam pela conduta destes dois SENHORES citados. Analisam como lhes convém, não despem a camisola clubística dentro da redacção (p. ex. na época passada tive o desprazer de ouvir um colaborador da Sport TV no papel de comentador na TVI, a dizer "Deus queira que o Sporting não ganhe amanhã") e tentam fazer paracer que aquilo que vemos não é real.
Os comentário que li acerca do jogo anterior foram completamente desajustados da realidade, deturparam as incidências do mesmo e, sonegam o comportamento caseiro por demais evidente do árbitro nomeado para o jogo. Mais, como o lance do golo tem semelhanças com o que Luisão disputou com Ricardo em Maio - muito fresco ainda -, aquilo que não quiseram considerar falta, imputaram a um frango do G.R. do Sporting, agora sequer comentam para não trazerem lembranças recentes, num jogo de resultado 3-2, em que 1 golo é sempre importante - quer pelo desfecho do resultado, quer pelo próprio desenrolar do jogo que pode alterar-, pois aquilo que aconteceu das duas uma, ou é golo em falta ou é um grande frango do Baia.
Com jornalistas destes é preferível ler a revista Maria.

26 julho 2005

Só ares de presidenciais.

Tenho seguido com relativa atenção as notícias sobre os eventuais candidatos presidenciais e fiquei pasmado com a recente opção do PS. Não é que este partido vai recorrer ao seu líder histórico para tentar evitar que, pela primeira vez, a direita eleja o P.R.. Horripilante.
Antes de qualquer outro comentário, quero salvaguardar que Mário Soares é uma personalidade pela qual nutro o maior respeito e grande simpatia, nada tendo contra a sua pessoa ou particularmente, contra a sua candidatura.
As opções - civis - do partido socialista em todas as eleições presidenciais anteriores recairam sobre secretários gerais (Soares e Sampaio), assim resta como recurso análogo e não repetitivo António Guterres e António Almeida Santos. Mas, o 1º está na ONU e o 2º, já perdeu eleições para Cavaco (1985) e está conotado com o processo de descolonização de triste memória (não por si mesma, mas pela forma como foi conduzida), que ainda hoje poderá ter efeitos negativos numa candidatura sua.
Um partido que está no governo, que venceu as eleições legislativas com maioria absoluta à menos de 6 meses, que sempre se propôs como alternativa credível a timoneiro deste país, demonstra ao fazer uma opção como esta, quão parca é a sua fonte de recursos credíveis para lugares como este. Mais, denota uma confrangedora falta de capacidade para produzir personalidades de vulto que consigam reunir um consenso em torno de si. Se Soares for o candidato apoiado pelo P.S., temo pela democracia portuguesa, temo pelo futuro do país. Quem teve 10 anos para prepar um candidato presidencial credível e apresenta um fundador com a respeitável idade de 81 anos, que país é que nos preparará em 4 anos?

21 junho 2005

Sem dó nem Michelin

O último Grande Prémio de fórmula 1 realizado em Indianápolis nos E.U.A., ficou marcado pelo abandono do mesmo por parte das equipas fornecidas pela Michelin.
De facto, o fabricante de pneus, após o acidente ocorrido com Ralf Shumacher, não conseguiu identificar a causa para a falha ocorrida, tendo entrado em contacto com o Director de Corrida e com o Delegado de Segurança da F.I.A., informando-os que no interesse da segurança tinha comunicado às equipas suas parceiras, que não garantia que todos os pneus utilizados na qualificação podessem ser utilizados a menos que, fosse criada uma chicane na curva 13 de modo a reduzir a velocidade dos veículos.
Surpreendente.
Em resposta, a F.I.A. demonstrou-se surpreendida pelas dificuldades demonstradas, uma vez que cada equipa pode se fazer acompanhar de dois tipos de pneus, de modo a assegurar um back-up (de menor performance) quando surgem problemas. Mais surpreendida se demonstrou atendendo aos anos de experiência que o fabricante tem no circuíto de Indianápolis.
Demonstrou-se ainda convicta que as equipas afectadas iriam ser informadas da velocidade de segurança para a curva 13 e afirmou que iriam reiterar este aviso por razões de segurança.
Esta entidade apontou ainda uma segunda solução.Esta consistia em, pelas mesmas razões de segurança, se os stewards verificassem que os pneus afectados estavam em risco de falhar, os mesmos poderiam ser trocados a cada dez voltas.
A Michelin pressionou então a F.I.A., afirmando que sem a criação das excepções solicitadas não iria competir.
O que ressalta desta estória é que o fabricante de pneus falhou estrondosamente na preparação deste G.P., pressionou a F.I.A., colocando-se numa situação sem retorno possível e, como esta manteve-se impávida e serana respeitando os regulamentos do conhecimento de todos, não criando regimes de excepção, todas as equipas fornecidas com pneus Michelin tiveram de abandonar.
A F.I.A. tomou a decisão correcta. A Ferrari, Jordan e Minardi, tiveram problemas no início de época devido aos pneus. Ninguém nesta altura se preocupou em alterar as regras quando, sobretudo o M.Shumacher e o R.Barrichelo perdiam 2 segundos por volta.
Assim, não correu quem não era competitivo neste G.P. pelo que o resultado final do mesmo, espelha a verdade desportiva do fim de semana.
Os pilotos das equipas mais pequenas, entre os quais se inclúi o nosso Tiago Monteiro, defrontam-se todas as corridas com a falta de competitividade dos seus carros, perdendo 4, 5, 6 segundos por volta e lutam com as suas armas até ao fim sem fazer birras.
Neste fim-de-semana, por via da qualidade dos pneus, eram mais competitivos que os outros e tiraram partido disso com toda a honra.
Indianálopis foi triste para a Fórmula 1, não por causa da F.I.A., Bridgestone, Ferrari, Jordan ou Minardi, mas sim porque quem cometeu o erro crasso, não o quis assumir resolvendo lançar a polémica.
Resta-me endereçar os mais sinceros parabens ao Tiago Monteiro pelo seu primeiro pódio e aguardar que ele lhe traga a hipótese de ter melhor material (pelo menos carro, porque os pneus parecem agora ser bons) para poder discutir posições de destaque com mais frequência.
"O primeiro passo é o início de uma longa caminhada" Provérbio Chinês